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Cultivo de milho sofre com falta de chuva no Sudeste

Não bastassem terem atravancado o plantio da safra de grãos de verão no atual ciclo 2014/15, o calor e a escassez de chuvas dificultaram também o desenvolvimento dessas lavouras em parte do país - e o milho não escapou ao golpe do clima.

Cultivo de milho sofre com falta de chuva no Sudeste

As estimativas ainda estão tomando forma, mas já existe um certo consenso entre agricultores e especialistas de mercado de que importantes regiões produtoras do cereal terão algum nível de quebra de produtividade, especialmente no Sudeste.

"Uns falam em 10%, 20% e até 40% de redução no rendimento do milho, em relação à expectativa inicial. Ainda é um pouco cedo para definir esse número, mas haverá sim um impacto negativo", adianta Ana Luiza Lodi, analista da FCStone. A tensão maior, diz, está em Minas Gerais, principal Estado produtor de milho na primeira safra - a safra de verão.

Depois da estiagem em outubro de 2014, período de semeadura do grão, os produtores mineiros sofreram com um novo período de seca no começo de janeiro. "Ficamos praticamente os 20 primeiros dias do mês sem chuvas, o que causou apreensão porque atingiu algumas lavouras em fase muito vulnerável, de floração e início de frutificação", diz Wilson José Rosa, coordenador técnico estadual de culturas da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater/MG).

Segundo Rosa, as chuvas voltaram nos últimos dias, mas não de maneira generalizada. A Emater/MG está recalculando a projeção de produtividade do milho, e a possibilidade de o Estado se aproximar dos 6 mil quilos por hectare, como previu a Conab, parece pequena. "Não chegaremos a esse patamar, mas acho que ficaremos acima dos 5,23 mil quilos da safra passada. Tudo ainda depende das chuvas nas próximas semanas, embora tenhamos pouca esperança de normalização", diz.

Em São Gotardo, município da região do Alto Paranaíba e um dos mais importantes produtores de milho mineiros, a perspectiva de colheita já foi reduzida em 17%. "Com o veranico de janeiro, nossa expectativa diminuiu de 7,2 mil quilos para cerca de 6 mil por hectare", afirma Marco Antônio Carvalho da Costa, agrônomo da Emater/MG.

Para Ana Luiza, da FCStone, a proporção da queda ficará mais clara a partir do fim de fevereiro, quando Minas começar a colheita. Mas a extensão da área com algum comprometimento da safra de milho se estende para além do Estado. "Há problemas desde o norte do Paraná, passando por São Paulo, Sul de Minas, Triângulo Mineiro, Alta Paranaíba, até Goiás", elenca Anderson Galvão, CEO da consultoria Céleres.

No Sul do país, ao contrário, há mais motivos de comemoração. "O milho se safou por aqui, estamos muito otimistas", diz Paulo de Tarso Silva, presidente do sindicato rural de Passo Fundo (RS). O Estado é vice-líder na produção de milho de verão. Segundo Silva, não faltou água nem luz para as plantas, e o resultado é uma projeção de produtividade entre 9,5 mil e 10 mil quilos por hectare na região - no ano passado, com chuvas mais escassas, não se chegou aos 8 mil quilos. "Estamos 30% a 40% acima da média de chuva. A cada dois, três dias, dá uma garoa".

Os preços é que não têm animado os gaúchos. As cotações estão entre R$ 22 e R$ 23 por saca em Passo Fundo, mas os agricultores esperam de R$ 28 a R$ 30. "Os compradores também não têm 'mostrado a cara'", diz Silva. A colheita no Estado já foi concluída em 17% da área, no ritmo da média histórica.

No Paraná, os trabalhos de retirada do milho de campo alcançam 6% da área, ligeiramente adiantados ante um ano atrás. "Até tivemos alguns bolsões onde choveu menos, mas não deixou de chover", diz Francisco Simioni, chefe do Departamento de Economia Rural do Estado (Deral). Favorecida pelo clima, a previsão de produtividade está em 8,6 mil quilos, 5% acima da safra passada.

Galvão, da Céleres, ressalta que uma quebra de 5% a 10% na primeira safra de milho poderia ser compensada por uma produção maior na segunda safra (a safrinha), mas há outra situação delicada. "Espera-se uma safrinha com menor nível de tecnologia e atraso no plantio. Assim, uma pequena quebra no verão pode ter impacto maior", prevê. Nos últimos anos, a produção de milho no país tem se concentrado na safrinha: em 2013/14, 60% da produção total veio dessa safra de inverno.

A redução de oferta viria em um momento de demanda aquecida, especialmente para ração animal. "Os baixos preços do milho em 2014 estimularam produtores de frangos, suínos e até confinadores de bovinos, no Brasil e no mundo. Se formos a uma situação de maior aperto na oferta, poderia haver uma influência altista nas cotações", conclui Galvão.

Fonte: Mariana Caetano, Valor Econômico

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